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Anatel responde a uma dúvida sobre 5G que você nem sabia que tinha

Pergunta sobre "marketing empresarial" do 5G pega membros da Anatel de surpresa; jornalista diz que número 5 representa uma ameaça. 

A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) realizou na última segunda-feira (13) uma entrevista coletiva à imprensa sobre o leilão do 5G – ou seja, sobre o edital de licitação das frequências de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. O presidente da autarquia, Leonardo de Morais, e o relator do edital, Carlos Baigorri, receberam uma pergunta tão curiosa que a reproduzimos na íntegra logo abaixo.

Como que seria o “marketing empresarial” do 5G?
A coletiva da Anatel durou cerca de uma hora, com questões geralmente voltadas ao aspecto técnico do 5G, mas uma das dúvidas foi bem diferente e nos chamou bastante a atenção.

Na verdade, essa pergunta é tão peculiar – e é detalhada de uma forma tão longa – que talvez você se confunda. Não se preocupe: poucas pessoas conseguiriam entender de primeira do que isso se trata; eu precisei rever a coletiva da Anatel para tirar algum sentido de tudo que foi dito.

O aviso está dado, então vamos lá! O jornalista começa assim:

“Atualmente temos muita representação no marketing empresarial sobre histórias vividas através da fala, certo? Escutei muito falando sobre atores; então na novela, em filmes, tem muita representação daquilo que foi vivido através de um ator popular, um ator na vida, do dia a dia.”

… por favor, continue.

“O 5G, se fala muito em velocidade de transmissão de dados, mas para você fazer um leilão e vender, vender serviço, você tem que fazer um marketing empresarial em cima do seu produto, certo?”

Correto!

“O número 5 representa alguma coisa que foi vivida por alguém, certo?”

Como é?

“Então quando a gente chega no futebol – a gente que é brasileiro e gosta de futebol – o cinco representa alguma coisa, entendeu? Através do marketing empresarial.”

O marketing empresarial no camisa 5 de um time? Qual time?!

“A pergunta aos senhores é o seguinte: o 5, para você vender o serviço, como que seria o marketing empresarial para vender o serviço através do número 5? Cinco-gê. Leonardo, pode responder-me, fazendo o favor?”

Ao ouvir isso, Leonardo se esquiva da pergunta alegando que “tinha que responder um e-mail aqui”. Ele repassa a tarefa para Baigorri – que, sorridente, dá sua resposta: basicamente, isso não tem muito a ver com a Anatel.

“Obrigado pela pergunta, Eduardo. Bom, o 5G é um serviço, uma tecnologia que poderá ser vendida, ela tem essas características técnicas de alta velocidade e de baixa latência, e o marketing empresarial para a venda desses serviços não é algo regulamentado pela Anatel.

É basicamente isso que eu posso dizer, então, assim… se existir alguma dúvida sobre o procedimento de marketing empresarial, existem órgãos responsáveis quanto a isso, não sendo a Anatel um deles. Obrigado.”

Carlos Baigorri, relator do edital para o leilão do 5G

Eu que agradeço pela oportunidade de descobrir que o marketing empresarial do 5G não entra no escopo da Anatel.

O leitor Hugo Maestá, cofundador da empresa Convertpack, imortalizou o momento em uma imagem publicada no Twitter; talvez ela ajude você a captar o sentido da coisa (ou desistir de vez):

O 5 no 5G representa… uma ameaça? 🤨
Em seu site pessoal, o jornalista diz ter graduação em Matemática e mestrado em Comunicação. Vários posts discutem a simbologia das letras e numerologia, o que pode explicar o interesse enorme no número 5.

Além disso, no post intitulado “A grandiosidade do 5G e o marketing do número 5”, o jornalista defende que o número 5 em si representa uma ameaça:

“… não podemos compactuar com o marketing que está envolvendo o assunto, o número 5 representa um abuso a [sic] constitucionalidade e o desrespeito do ser humano com outro ser humano, realizando a chamada crise social da pandemia do Coronavírus, a proteção social com a mal [sic] intenção do número 5, traz um entendimento de honestidade no período pós pandemia, sabendo que esse número deixa desprotegido [sic] a segurança nacional…”

Não é novidade que teorias da conspiração vêm culpando o 5G pela COVID-19 desde o início da pandemia; infelizmente, essa ideia equivocada continua a se espalhar até hoje.

Anatel e leilão do 5G
Vale lembrar que a Anatel de fato precisou “vender” a ideia do 5G às operadoras; há algum tempo, elas estavam preocupadas com a rentabilização da nova tecnologia.

José Félix, presidente da Claro, afirmou em 2018 que a empresa só iria ativar redes de quinta geração “em pontos específicos onde se justifique a tecnologia, tanto do ponto de vista do uso… quanto do retorno sobre investimento”. Eduardo Navarro, então presidente da Vivo, deu um abraço em Félix e avisou: “não podemos entrar numa corrida para perder dinheiro”.

Em 2019, o atual presidente da Vivo, Christian Gebara, disse que não se importaria com um eventual atraso no edital caso isso trouxesse maior segurança aos investimentos. O leilão do 5G realmente acabou atrasando, em parte devido à pandemia; ele deve acontecer até o final do ano. Daí para frente, o marketing – para empresas ou para consumidores – ficará nas mãos da Claro, TIM, Vivo e (talvez) Oi.